Doce Solidão



O Ciclo da vida toma um espaço que eu nunca percebi, de repente as pessoas começam a te pressionar no emprego e na faculdade, não tenho dormindo a noite. Não tenho dormido porque eu não posso dormir, eu preciso ficar acordado para fazer as atividades inacabadas quando o sol ainda estava me enchendo o saco, com todo o seu poder e realeza.
Em uma dessas noites que eu não poderia desperdiçar dormindo, acendi um cigarro e tive que fazer um trabalho da faculdade. Liguei o computador, peguei vários livros sobre o assunto e pus em cima da mesa. Minhas mãos estavam trêmulas, e a noite estava especialmente fria àquela hora, uma boa noite.
Abri os livros, e começei a ler o índice... Aqui está, página 314. Acessei alguns sites que estavam nos "favoritos" e começei a digitar o trabalho da faculdade, pelas exigências do professor, vi que teria uma longa noite para escrever
aquele longo trabalho.
Uma dor de cabeça imensa cai sobre mim, um sentimento de impotência e insegurança cai sobre mim... Eu preciso me deitar...
O que aconteceu comigo? Pergunto-me eu. Acordo desorientado, são três horas e sete minutos... Continuarei o trabalho? Ou voltarei a dormir? Foda-se, eu quero um pouco de vodka. No criado-mudo ainda tem uma garrafa de vodka, destinada aos meus
dias de solidão, que por sinal, mostram-se cada vez mais frequentes, mas não importa.
Eu tomo um gole da vodka, ela escorre pela minha garganta, e me aqueçe. Eu sinto calafrios, é uma sensação única em mim. A vodka me deixou mais desperto, eu tenho uma noite de prazer e angústia para suportar, mais uma noite assim.
Alguém pode me dizer qual é o verdadeiro sentido da solidão? Tamanho é esse sentimento que chega a me deprimir quando eu vejo que alguns amigos de infância já são casados e possuem filhos lindos. Eu tive algumas namoradas, que eram muito complicadas, os namoros não passaram de meses. Porém, eu não me importo. Elas enjoavam muito fácil da minha cara e eu já estava cansado de levar foras.
Eu me sinto acabado por dentro, eu distribuo sorrisos falsos pelos colegas, eu sou educado, gentil, altruísta. Eu sou o que a sociedade quer que eu seja, uma pessoa amigável e feliz. Mas essa não é a minha realidade, infelizmente. A minha última namorada me recomendou ir a um psiquiatra e eu teria ido se não fosse a repulsa que eu tenho de médicos, é um trauma que existe dentro de mim desde a minha infância, eu não sei o motivo disso.
Tive uma adolescência complicada, eu sempre fui muito introvertido, e os garotos populares da minha sala sempre tiravam sarro da minha cara, eu aguentei até certo ponto. Em uma das suas zoações comigo, eu não pude conter tanto ódio dentro de mim, acertei-lhe um soco no seu nariz, que começou a jorrar uma quantidade cavalar de sangue. Rapidamente, a turma foi me segurar, mas eu não me importei mais, apenas fiquei vendo o sangue escorrendo pelo nariz daquele bastardo. Eu nunca senti sensação tão boa em toda a minha vida, um sorriso no canto da boca...
Desde então, eu arrumei inúmeras brigas, eu cheguei a espancar várias pessoas, eu ceguei a empregada da minha casa, eu cortei o rabo e um dedo da pata do meu cachorro, o único objetivo disso era o sangue. Eu nunca matei ninguém. Nunca matei ninguém propositalmente.
Um certo dia, no auge da minha solidão, fui a um bar no centro da cidade e pedi uma garrafa de whisky, tão pezarosa a minha existência, que eu esvaziei a garrafa, e completamente embriagado fui buscar companhia nas damas da noite, logo encontrei uma... Levei-a para a minha casa, e no estado que eu me encontrava, ela iria honrar a minha doce tristeza. Ela me acariciou, me fez massagem e enfim, fez o trabalho que lhe destinara, a venda de um prazer carnal e momentâneo.
A minha solidão e estado de embriaguez, me fez deitar na cama e confessar a minha vida àquela prostituta, chorar no seu colo, tão agoniante era a minha situação, que faria os habitantes do Hades se juntar a minha amargura e chorar comigo. Aquela prostituta se comoveu com a minha situação, e com a sua ingênua mente humana, ofereceu-se a me ajudar. Eu aceitei de bom-grado. Eu a amarrei na cama, e disse a ela que seria uma brincadeira, simples.
Ela com os olhos vendados, com os membros amarrados na cama, com uma fita adesiva na boca e um temor no espírito. E eu com uma pequena faca em uma mão, uma garrafa de vodka na outra mão, fitei àquela pessoa na minha cama, vi a faca. Fechei os olhos e começei o meu rito. Lentamente abri um corte na face dela, e rapidamente o sangue se fez presente. Aquele espírito de cinabre estava ali, e me fez feliz. Cortei novamente a face dela, porém de modo mais rápido e mais profundo. Ela tentava gritar, mas eu não ligava. Assim, derramei um pouco de vodka pelos cortes récem-abertos e degustei daquela mistura macabra, um gosto inigualável, me remeteu a idéia de uma fábrica antiga, ou a engrenagem de uma torre de relógio. Começei a abrir cortes nas pernas da prostituta, ela se debatia e tentava gritar, porém não passava de grunhidos. Os cortes eram imensos e profundos, eu nunca cheguei a um estado tão insano na minha vida, aquilo me fazia tão bem, que a última coisa que eu pensava era parar.
Agora a prostituta se debatia mais, eu ria da cara dela, e bebia a vodka que estava sendo derramada nas pernas daquela vadia, a mulher ficou com a pele avermelhada, e com o coração batendo muito rápido, o pescoço dela suava... O pescoço, pensei: "Um corte superfícial não a matará", confesso que hesitei por um tempo, mas o meu grau de embriaguez me deu uma coragem infernal, uma confiança sobrehumana. E lá estava eu... Encostei a faca no pescoço dela, via tentativas de gritos desesperados, puxei a faca. A faca estava mais afiada do que eu imaginei. O resultado de tudo aquilo foi uma hemorragia, eu me desesperei completamente, não sabia como estancar aquele sangue, tentei com os lençóis que estavam sobre a cama, em vão. Pensei em chamar a ambulância, mas eu não queria ser preso, tenho muita coisa para viver. O resultado foi a morte. Um fardo que eu terei que carregar por toda a minha vida. A morte de uma pessoa, eu teria que me livrar do corpo
agora e limpar toda àquela sujeira.
Peguei o carro, pus o defunto dentro de um saco preto, e o coloquei no porta-malas, pensei em um lugar que aquilo não seria encontrado. O primeiro lugar que me veio em mente foi o pântano ali perto, e era para lá que eu ia. Já estava tarde e ninguém estaria por lá. Chegando lá, parei o carro em um canto mais afastado da entrada principal e ali joguei o corpo. Após isso, eu senti um calafrio subindo pela espinha, um vento frio bateu no meu rosto e ouvi sussurros, fiquei aterrorizado na hora, percebi que a minha consciência me atormentaria para o resto da minha fútil existência.
Eu ouço uma voz "Sente-se e descanse", o medo toma conta de mim, a embriaguez se esvai em um instante. Pego o corpo dentro do carro e o jogo na água, mais um para a conta desse intríseco pântano. Eu vejo vultos, o que me faz sentir uma repulsa desse lugar diabólico. Entrei no carro e fui para casa... E até hoje sigo a minha vida.
Texto por Anibal.
Imagem e edição por Rogerio.

5 comentários:

sgt° blog 31 de agosto de 2009 às 17:58  

estilo alveres de azevedo.

Rogerio 31 de agosto de 2009 às 18:02  

Realmente está muito bom Anibal. Meus parabéns.

Flávia 1 de setembro de 2009 às 14:43  

Caraaca, muito fodation.

Rogerio 1 de setembro de 2009 às 15:17  

^^ (Fodation) ^^

FabioZen 2 de setembro de 2009 às 12:57  

Altamente competente,realmente um texto muito bom e olha que eu passo por muiiitos blogs.Parabens!

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